Quisera eu que fôssemos
Natureza
Tu, vento cortante
Eu, montanha concreta
Eternamente
A nos embalar
O vento a chicotear-me as entranhas
Esculpindo molduras
Deixando rastros
Em meus cumes pontiagudos
Tirando, por vezes, pequenos pedaços
No vazio a espalhar
E a montanha,
Impávida
Numa brava resistência
Deixando-te entrar, esculpir, fecundar
E lá dentro ouvir
O teu grito, teu rangido, todo teu alvoroçar
Quisera eu, na eternidade
Em tuas nesgas me embalar
E quando se fizesse noite
Ouvir o teu canto
À montanha galgar, teu riso tosco
Tua violência
Teu eterno ir e vir
Quisera eu,
Ter o vento a esperar
Toda manhã, a tardinha
A noite, quando a lua faz clarão
Sentir o teu sopro
A montanha à castigar
Quisera eu...
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